I – “IN ILO TEMPORE” I. 1. INTRODUÇÃO O
trabalho que ora temos entre mãos não é um estudo de caso. É um
trabalho de natureza teórica, um exercício de pensamento em torno do
tema “Multiculturalismo e Democracia” com particular enfoque para o
papel das minorias. Esta deliberada opção resulta da necessidade de
inverter o sentido da corrente que aceita, sem questionar, o porquê das
coisas. “O mundo contemporâneo exige que
pensemos, mas priva-nos frequentemente das condições para pensar.”(1)
É justamente o Homem quem impede o pensamento de pensar, afirma Foucault, e, por isso, propõe, seguindo a
fórmula nietzscheana, a radical e polémica
solução de sugerir a morte do Homem como condição da retoma do pensar e
do saber. A
flagrante contradição, entre a prática vivencial
e as normas que a regulam, obriga-nos a encarar esta realidade como um
ponto de partida, acreditando, como Proust,
que “a verdadeira descoberta não é procurar novas imagens, mas possuir
novos olhos”. O que implica, por um lado, ter que abandonar “o
conformismo (a aceitação do que existe), o situacionismo (a celebração
do que existe) e o cinismo (o conformismo com má consciência)”(2)
e, por outro, destacar a necessidade urgente de desmontar as
representações estereotipadas associadas a esta ou aquela forma de
estar em sociedade. É assim que deve entender-se a pertinência deste
trabalho (perdoe-se-nos a imodéstia). Tentar compreender qual a
importância das minorias – quem são, o que são, o que representam – neste mundo que se reclama cada vez mais
global.
(1) Boaventura de
Sousa Santos, Opinião, Visão 441, Lisboa 2001, pp. 36. (2) ibidem |
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