III. 2. NOVA FORMA DE VIOLÊNCIA

III. 2.1.ESTEREÓTIPOS INSTITUCIONAIS

 

Como poderemos evitar que João, cigano, 17 anos, abandone a escola? Compreende-se a revolta de um jovem que não aceita identificar-se nos sinónimos dos dicionários vigentes, como “vendedor ambulante”, “homem astuto”, “velhaco”, “trapaceiro”, “burlador”, “ladino”, “esperto”, “ardiloso”.

 

Aceitarmos que estes estereótipos reflectem apenas uma dada época é puro engano. Confronte-se, a propósito, a 7ª edição do Dicionário da Língua Portuguesa,[1] com a versão actual do Dicionário de Português da Texto Editora e o Grande Dicionário Universal 2.0 (versão CD) onde se lê praticamente o mesmo. Mais “cuidada” é a referência que o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001), da Academia das Ciências de Lisboa,[2] faz a este propósito, referindo alguns dos mesmos estereótipos mas com o qualificativo “Deprec.

 

Não resistimos também em consultar o Oxford Advanced Learner’s Dictionary (1989) e folhear, com expectativa, as suas páginas. Descobrimos a referência a membro de um povo com características próprias... e nenhuma menção a depreciativos ou formas figurativas. No Petit Robert (1983), Dictionnaire de la Langue Francaise, encontramos apenas e tão-só menção a boémio de Espanha (e a referência a uma marca de cigarros – talvez por associação de ideias). Estes simples exemplos são a manifestação clara e inequívoca desta nova forma de violência – institucional – que promove o branqueamento, em vez de o exorcizar e mesmo anular.

 

 

 



[1] Livraria Figueirinhas, do início da década de 60 e também a 4ª edição do Dicionário de Português, Porto Editora, sem data.

[2] Verbo, Lisboa 2001.



 

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