Ultrapassada esta fase primária,
o homem adquire uma nova dimensão. O pensamento dirigido para a
auto-sobrevivência volta-se, então, para a intersobrevivência. Estamos
perante o ser humano enquanto ser social, que, entre diversas acepções e em
sentido restrito, pode traduzir-se em “consciência comum dos elementos de um
grupo ou sociedade sobre os problemas sociais, posição social do homem e
governo ou regulamentação da vida social”.[1] Um ser s Aristóteles[2] surge
aqui com fundada actualidade. Não só como memória de que o Homem é um ser
social por natureza ou que, por natureza, o Homem é um animal político, mas
pela reflexão que faz sobre a política, cerca de 300 anos antes de Cristo;
usamo-la a pretexto da abordagem a questões caras ao multiculturalismo, e ao
multiculturalismo ele próprio. Para Aristóteles, o
Estado - cuja função é proporcionar o mais alto bem, uma vida boa - é a mais
elevada forma de comunidade, na base da qual se encontra a família,
estruturada em duas relações fundamentais: homem e mulher e senhor e escravo.
É no seio da família que deve promover-se a discussão da política. Porque não
abordar na família, as questões da polis, de que ela própria faz
parte? O escravo faz parte da família e, como tal, um dos temas políticos é a
escravatura, tida como necessária e justa. O escravo deve ser inferior ao
dono, porque, por natureza, senhor e escravo estão no âmbito do que é
natural. E escravo é aquele que, por natureza, pertence a outro e não a si
mesmo, já que uns nascem para a sujeição e outros para o mando. Aristóteles
introduzia a questão da raça, defendendo que os escravos não devem ser
gregos, mas de raça inferior, com menos espírito. Sustenta também a
discriminação sexual, acreditando que o homem governa melhor os animais
domésticos do mesmo modo que os inferiores quando são governados pelos
superiores. A construção que desenvolveu sobre escravos e mulheres não
permite poder acreditar na igualdade. Comparando
diferentes formas de governo, considera a democracia má, porque o poder está
nas mãos dos carenciados que não atendem aos interesses dos ricos. Um governo
bom é o que procura o bem estar da comunidade e não apenas o seu. No entanto,
no desencanto que todas as formas de governo lhe trazem, acaba por defender a
democracia, porque nada melhor havia ainda sido inventado. |
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[1] Daniel de Sousa, Introdução à Sociologia, Lisboa 1977,
pp. 16-17
[2] Aristóteles, Política, Lisboa 1970, pp. 43.
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